quarta-feira, abril 20, 2011

Sabe aquele verbo...

Desapegar? Pois é. Ele parece não querer fazer parte do meu cotidiano. Tento me desapegar das coisas, das pessoas, dos amores e nada acontece.

Algumas coisas eu até consigo. Roupa, calçado, brinquedo, maquiagem, bijuterias. Esses vão e não voltam. Mas tem outras...

Sinceramente, queria mudar. Queria me apaixonar todo dia por alguém diferente. Não para ter comigo, mas para não sofrer. De quê adianta ter e não ter ao mesmo tempo. Sofrer por antecipação. Se o desapego me pertencesse, eu sorriria mais e choraria bem menos.

Amores podem ir e vir, mas nos machucam. Da mesma maneira que as promessas. Quero o desapego disso tudo. Quero ouvir e fazer de conta que é verdade, mesmo sabendo que é mentira. Porque assim, sei que depois de alguns momentos já nem lembrarei mais...



voltar em 3, 2, 1...

Estranho reativar um blog. Mas faz parte da vida reviver e reiniciar alguns 'projetos', alguns 'desejos'...

Sempre vi este tipo de ferramenta da internet como uma forma de ir contra o conceito de diário pessoal, onde até existia cadeado. Mas as mudanças de atitude e de comportamento levam a gente a querer contar como é que pensamos, agimos e entendemos esse mundo.

E por falar em diário...

Por anos guardei um sem número de cartas, cartões, lembranças, recados, desenhos e tantas outras coisas que colecionei durante a adolescência. Tudo isso estava muito bem escondido no fundo de um guarda-roupa na casa de minha mãe, onde não moro há quase três anos. Quando lembrava do que estava escrito naquela enorme quantidade de papel, tremia. Essa reação espontânea acontecia só de pensar que se minha mãe resolvesse limpar o armário, encontraria toda a minha vida escrita em cartas trocadas com amigas que moravam em outras cidades e diários... Não eram muitos, mas tratavam de uma fase turbulenta da vida, entre os 13 e 16 anos. Época em que a única vontade era de sumir. E não rolava bullying, era um não querer viver aquilo. Nunca consegui conversar sobre isso com pessoas próximas, mas sempre achei que isso acontece com a maioria dos jovens nesta fase de transição e tantas exigências e cobranças, por isso, entendia como bom externar aqueles sentimentos estranhos.

Última vez que fui visitar minha mãe, tirei um tempo para revirar aquelas lembranças. Aquilo tudo era minha vida há alguns anos. Letras de músicas, papéis de carta, envelopes de carta coloridos, de quando ainda era possível escrever como remetente da carta 'adivinha quem é' e os atendentes dos Correios não faziam cara feia.

Chorei.

Chorei porque perdi o contato com amigas queridas, que hoje devem ser casadas e com filhos. Chorei feliz, porque melhorei. E algumas daquelas palavras deprimentes desapareceram do meu vocabulário. Porém, o que mais doeu foi ter que escolher entre guardar novamente toda aquela vida ou deixá-la apenas na lembrança.

Mexi, revirei, abri cadernos, li os poemas bobos sobre o futuro e conclui, sentada no chão frio do quarto que já foi meu, que, de nada adianta alguns planos, pois, assim como mudamos de casa, de escola e de profissão, amores morrem e outros nascem e nada é bom o bastante para durar pela eternidade.

Sofri e decidi levar aquele amontoado de palavras para um lugar que me faria bem e que ninguém teria acesso.

Aos poucos comecei a queimar, papel por papel, carta por carta, diário por diário, e conforme as chamas aumentavam, o choro diminuía e surgiu enfim, um sorriso. Era a felicidade de saber que as minhas memórias estavam bem guardadas e que ninguém poderia vasculhar.

Me distrai observando as cores daquele fogo, que parecia desenhar no ar o que estava sendo consumido em matéria e se materializando para sempre em pensamento. As chamas brincavam comigo, como se pedissem para eu adivinhar em qual história elas estavam.

Por fim, guardei um espelho, uma flor seca e vários anos da minha vida. Voltei para a minha casa renovada, e mesmo com tão pouco, me sentindo vencedora.